PELA MORALIDADE BURGUESA

Vocês,
com seus ternos de linho nobre
protegidos pela capa da moralidade
Quando postos de perfil, nada além do próprio nariz se enxerga
Num brado, brando movimento de braços
Putos porcos, eclesiásticos da moderna inquisição
Nadando em espumantes, espumando pela boca
O ar cheira a formol, os hálitos podres...

Vocês,
da classe intelectual acomodada
burgueses individualistas
Vocês,
nobres, homens feitos de pedra
peguem todo esse seu discurso burocrático e enfiem no meio do rabo.

CAROLA

O novo testamento derretendo sob as axilas
o corpo velho derretendo sob a veste negra
Ela atravessa a rua sem olhar para os lados
respeitando o sinal enquanto encena
acena pra uns e outros, enquanto pensa
(pagãos, putos, infames)

Entra pela igreja, beija a cruz
paga o dízimo
(queria na verdade era pagar um belo boquete)
pede benção ao padre
olha de canto a moça jovem e bonita, pensa
(puta, drogada)

Sai sorrindo, de alma lavada, quase em paz
Volta pra casa, tranca a porta
Tira a roupa, fica nua no meio da sala
Se masturba com a imagem da virgem
(a carola quer trepar)
aos berros diz algumas perversidades em nome de deus
no gozo se joga no chão
enquanto chora e pede perdão.

Prece

Em nome do pai, que vai ser o pai do filho da filha
Em nome do filho, nasceu acéfalo e por isso comprou fé usada
Em nome do espírito santo, que vem passando por uma crise de identidade. Ele anda meio desconfiado, não sabe se o filho da virgem é dele mesmo.

Amém

(distribuindo sorrisos plastificados)